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domingo, 6 de janeiro de 2008

“Garota de Ipanema”

“Garota de Ipanema” é uma famosa canção da Bossa Nova e da MPB (Música Popular Brasileira), composta originalmente por Vinícius de Moraes e António Carlos Jobim, em 1962. A gravação de uma versão em inglês, no ano seguinte, interpretada por Astrud Gilberto (na altura, mulher de Tom Jobim), com letra de Norman Gimbel, transformou “Garota de Ipanema” ou “The girl from Ipanema” num sucesso mundial. Ao longo dos 25 anos que se seguiram, a canção ultrapassou as 3 milhões de execuções em emissoras de rádio e televisão, o que fez de Tom Jobim o segundo autor estrangeiro mais ouvido nos Estados Unidos.


História da Canção (para ouvir clique aqui)

Tom Jobim e Vinicius de Moraes não gostaram da primeira versão da letra, criada por este último e baptizada de “Menina que passa”.


"Menina que passa"

Vinha cansado de tudo
De tantos caminhos
Tão sem poesia
Tão sem passarinhos
Com medo da vida
Com medo de amar

Quando na tarde vazia
Tão linda no espaço
Eu vi a menina
Que vinha num passo
Cheio de balanço
Caminho do mar


Mais tarde, Vinícius de Moraes fez a versão definitiva da letra, inspirado em Heloísa Eneida Menezes Paes Pinto (mais conhecida como Helô Pinheiro), uma jovem que passava muitas vezes em frente ao Bar Veloso (hoje denominado “Garota de Ipanema”), em Ipanema. Tom Jobim e Vinícius de Morais eram frequentadores assíduos do bar, que ficava perto da morada de Helô Pinheiro. Só em 1965 é que Heloísa soube que tinha sido a musa inspiradora da canção. Tom Jobim e a esposa, Thereza, foram padrinhos de casamento da “garota de Ipanema”.


Graças à canção, Helô Pinheiro transformou-se numa celebridade. Foi entrevistada por jornalistas de todo o mundo, actuou em telenovelas, apresentou programas de televisão, fez anúncios publicitários, organizou concursos de beleza e até publicou a sua biografia. Hoje possui duas lojas de bikinis com o nome “Garota de Ipanema”.

Compositores

- Tom Jobim

António Carlos Brasileiro de Almeida Jobim nasceu no Rio de Janeiro, a 25 de Janeiro de 1927 e faleceu em Nova Iorque aos 67 anos. Tom Jobim foi compositor, maestro, pianista, cantor e violinista. É considerado “um dos maiores expoentes da música brasileira” e um dos criadores da Bossa Nova.

A ausência do pai durante a infância e adolescência tornou-o num maestro com uma profunda relação com a tristeza e o romantismo melódico. Aprendeu a tocar violão e piano, tendo aulas, entre outros, com o professor alemão Hans-Joachim Koellreutter, introdutor da técnica dodecafónica no Brasil.

Pensou em tornar-se arquitecto, mas só fez o primeiro ano do curso. Ainda se empregou num escritório, mas cedo desistiu e resolveu ser pianista. Tocou em bares e boates de Copacabana até que, em 1952, foi contratado pela gravadora Continental, onde fez arranjos e transcreveu para a pauta as melodias de compositores que não dominavam a escrita musical.

A primeira canção que gravou foi Incerteza (com Newton Mendonça), na voz de Mauricy Moura. O primeiro sucesso data de 1954: Tereza da Praia, em parceria com Billy Blanco.

A 21 de Novembro de 1962, Tom Jobim foi um dos destaques do Festival de Bossa Nova do Carnegie Hall, em Nova Iorque, onde fez a apresentação oficial do estilo musical aos americanos. Gravou discos nos Estados Unidos e fundou a sua própria editora, a Corcovado Music. Em 1967 gravou com Frank Sinatra.

Em 1984, foi nomeado conselheiro cultural do Estado do Rio de Janeiro pelo antropólogo e vice-governador Darcy Ribeiro.

A valsa “Luíza” foi tema da telenovela “Brilhante”, assim como “Passarim”, uma das músicas que Tom Jobim compôs para a mini-série “O Tempo e o Vento”. Para o filme “Eu Te Amo”, de Arnaldo Jabor, fez uma valsa homónima, com Chico Buarque. Já em “Gabriela”, de 1982, “Para Viver um Grande Amor”, no ano seguinte, ou “Fonte da Saudade”, de 1985, a participação de Tom Jobim foi muito além do tema principal.

Vítima de um tumor maligno na bexiga, Tom Jobim faleceu a 8 de Dezembro de 1994, em Nova Iorque, enquanto convalescia de uma cirurgia.

“A morte de Tom Jobim não foi apenas a queda de uma árvore, foi a derrubada de uma floresta”, escreveu Arnaldo Jabor.


- Vinícius de Moraes

Vinícius de Moraes nasceu a 19 de Outubro de 1913, no Rio de Janeiro, e faleceu a 9 de Julho de 1980. Foi um poeta, compositor, diplomata e jornalista brasileiro.

Registado como Marcus Vinitius da Cruz e Mello Moraes, aos nove anos de idade decidiu ir com a irmã Lygia ao cartório alterar o seu nome para Vinicius de Moraes. Desde cedo revelou talento para a poesia, contando a sua infância e juventude em versos que reflectiam o pensamento da sua geração.

Em 1929, tirou um Bacharelato em Letras e, no ano seguinte, entrou numa Faculdade de Direito. Completou o curso em 1933 e, estimulado por Otávio de Faria, publicou o primeiro livro, O caminho para a distância.O livro de poesias Forma e exegese, lançado em 1935, ganhou o prémio Felipe d'Oliveira. No ano seguinte substituiu Prudente de Moraes Neto como representante do Ministério da Educação junto à Censura Cinematográfica.

Ganhou uma bolsa do Conselho Britânico pra estudar língua e literatura inglesas na Universidade de Oxford, para onde partiu em 1938.

Colaborou com vários jornais e revistas, como crítico de cinema e escreveu crónicas diárias para o jornal "Diretrizes".Em 1946 tornou-se vice-consul do Brasil em Los Angeles, na Califórnia (Estados Unidos da América), onde permaneceu durante cinco anos.

Vinicius de Moraes estudou cinema com Orson Welles e Gregg Toland e lançou, com Alex Viany, a revista Film, em 1947.Em 2001, a industria de perfumes Avon lança a "Coleção Mulher e Poesia - por Vinicius de Moraes", com as fragrâncias "Onde anda você", "Coisa mais linda", "Morena flor" e "Soneto de fidelidade".

O “poetinha”, como ficou conhecido, casou-se nove vezes ao longo de sua vida. Não foi esquecido mesmo depois da sua morte, em 1980.

No dia 8 de Setembro de 2006, foi homenageado pelo governo brasileiro com a reintegração post mortem aos quadros do Ministério das Relações Exteriores. Foi então inaugurado o "Espaço Vinicius de Moraes" no Palácio do Itamaraty, no Rio de Janeiro.

Letra

Composição: Vinícius de Moraes / António Carlos Jobim

Olha que coisa mais linda
Mais cheia de graça
É ela menina
Que vem e que passa
Num doce balanço, a caminho do mar

Moça do corpo dourado
Do sol de Ipanema
O seu balançado é mais que um poema
É a coisa mais linda que eu já vi passar

Ah, porque estou tão sozinho
Ah, porque tudo é tão triste
Ah, a beleza que existe
A beleza que não é só minha
Que também passa sozinha

Ah, se ela soubesse
Que quando ela passa
O mundo sorrindo se enche de graça
E fica mais lindo
Por causa do amor


Composição: Vinícius de Moraes / António Carlos Jobim / Norman Gimbel

Tall and tan and young and lovely
The girl from Ipanema goes walking
And when she passes, each one she passes goes "a-a-ah!"
When she walks she's like a samba that
Swings so cool and sways so gentle,
That when she passes, each one she passes goes "a-a-ah!"
Oh, but I watch her so sadly
How can I tell her I love her?
Yes, I would give my heart gladly
But each day when she walks to the sea
She looks straight ahead not at me
Tall and tan and young and lovely
The girl from Ipanema goes walking
And when she passes I smile, but she doesn't see
She just doesn't see
No she doesn't see


“Garota de Ipanema” foi traduzida para diversas línguas. Desde a inglesa “The girl from Ipanema” à francesa “La fille d'Ipanema”, passando pela versão indonésia “Gadis dari Ipanema”, sem esquecer a espanhola “Chica de Ipanema”. Se falarmos de “Das Mädchen aus Ipanema” ou “Meisje van Ipanema” continuamos a falar da mesma música, que foi até cantada em hebraico.

Versões

Existem centenas de versões distintas da “Garota de Ipanema”, por vezes cantada por artistas femininas como “The boy from Ipanema”. Há versões em estilos musicais tão diferentes como punk, soul, mangue, axé, funk, hip hop ou pagode. Há gravações em piano, a solo, em orquestra sinfónica, em quarteto de cordas, em big band, em sextetos de jazz, em conjuntos de cocktail lounge, em grupo de mariachis, em banda de gaita de foles, entre outras versões.

A primeira versão data de 2 de Agosto de 1962, com João Gilberto, António Carlos Jobim, Vinicius de Moraes e o conjunto vocal Os Cariocas. No mesmo ano, Pery Ribeiro gravou a primeira versão comercial de “Garota de Ipanema”, também no Brasil.




A primeira gravação em inglês data de 1963, com letra de Norman Gimbel e interpretação de Astrud Gilberto. Em 1967, “Garota de Ipanema” tornou-se banda sonora do filme com o mesmo nome, dirigido por Leon Hirszman. Foram realizados três arranjos orquestrais sobre o tema da canção: “Tema de Abertura”, “A Queda” e “Tema da Desilusão”.



Outros artistas que interpretaram “Garota de Ipanema”:

- Al Jarreau
- Baden Powell
- Bassoonable
- Billy Vaughn
- Bob Schoen
- Calypso Bluz
- Carlos Lira
- Caterina Valente
- Cezary Tomaszewski
- Chappel Petra
- Cher
- Connie Francis
- Daemon Bernstein
- Dan Kozar
- Diana Krall
- Dizzy
- Earl Hine
- Eger Trio
- Eleonor Fridstrom
- Elis Regina
- Ella Fitzgerald
- Enoch Light
- Erin Brode Group
- Errol Garner
- Frank Sinatra
- Gal Costa
- Gary Trotman
- Geri Rizzo
- Herb Alpert
- Hip Pocket
- Jacqueline François
- James Stinnet
- Jarabe de Palo
- Jeanne Bastos
- Jeff and Jane Hudson
- Jessica Steward
- Jethro Tull
- John Temmerman
- John Williams
- Kompressor
- Lio
- Lisa Ono
- Louis Armstrong
- Lowell K. Lawson
- Madonna
- Marina Lima
- Mariza
- Michael Reavey
- Mood Indigo
- Mrs Miller
- Nana Mouskouri
- Nancy Wilson
- Nat King Cole
- Nervus Little dogs
- NiteShift
- Nova Mod
- Oberon String Quartet
- Os Cariocas
- Oscar Peterson
- Os Meninos Cantores de Viena
- Peggy Lee
- Percy Faith
- Pizzicato Five
- Quarteto de Brasília
- Randy Constan
- Ray Anthony
- Sam Hokin & Brian Tervo
- Sarah Boak
- Sarah Vaughan
- Shagi
- Stan Getz and Charlie Byrd
- Stefano Brondi
- St John's Trinidad & Tobago Steelband
- The Johnny Seven
- The Ray Charles Singers
- Toquinho e Vinicius
- Tropix
- Voyage trio
- Yuko Ohigashi

Como diz o «Jornal dos Amigos», “só a madre Tereza de Calcutá não gravou…”